"Encontro de Saberes Neepes 2019: O Campo na Cidade: resistências, (re)existências e interculturalidades no cuidado e na alimentação" - 10, 11 e 12 de dezembro de 2019
Relatoria: Maicon Miguel
Brasil,
meu nego, deixa eu te contar,
a história que a história não conta
o avesso do mesmo lugar.
É na luta que a gente se encontra
Brasil,
Meu dengo, o Neepes chegou, tem um ano,
Com versos que o livro apagou e, desde 1500, tem mais invasão do que descobrimento,
Brasil,
Teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu nem das mãos da princesa Isabel
A liberdade é um dragão num mar de Aracati
Salve, salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil,
Chegou tua vez.
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês,
Procurando um lugar para falar de interculturalidade,
No cuidado, na alimentação e o campo na cidade, as resistências, as existências e sua diversidade
Um lugar de céu aberto, de fundo cor de anil,
Que pudéssemos nos olhar, relatando o que sentiu,
Encontramos este lugar nas Raízes do Brasil.
Um debate dinamizado por questões polinizadoras,
Refletindo o território e suas ações transgressoras,
A cobiça do capital, essa força tão opressora.
São tamanhos os relatos, que nos fazem refletir,
Em cada gesto uma ação, nos fazendo até sentir,
Reforçando a necessidade da gente (re)existir.
(Re)existir na arte, (re)existir na cultura, (re)existir no alimento que vem da agricultura, (re)existir através das ervas que nos trazem tanta cura.
O que é ciência? O que é revolução? Nós já temos as respostas para esta reflexão?
Pois as respostas nos ensinam a andar com os pés no chão.
No chão dos saberes, no chão da diversidade, no chão das resistências, no chão da igualdade, no chão dos territórios que garantem a liberdade.
Um ponto de equilíbrio,
Precisamos encontrar,
Entre os saberes acadêmicos e também o popular.
Pois a inexistência deste encontro é desafio que aponto, nos impedem de avançar.
São 519 anos de lutas e resistência, já são mais de cinco séculos sem querer nossa presença no território que é nosso.
É essa a nossa sentença?
Quando pensamos que está bom, eles matam um de nós.
Tentam nos silenciar, calando as nossas voz, e começa tudo de novo...
Juntamos e organizamos o povo pra lutar contra os algoz.
O Estado deu a ordem. Tá dada a ordem. A polícia pode matar. Se for preto, se for pobre, nem precisa perguntar.
São 500 anos de genocídio sem previsão de acabar.
Mata preto, mata índio, mata a cultura a tradição, com uma mídia partidária não há comunicação. Essa mídia que se cala, derruba os nossos no chão.
Precisamos por um fim.
O racismo ambiental que segue matando vidas sem deixar as digital, feito por estados e empresas, nenhuma delas camponesas, todas multinacional.
O racismo religioso, precisamos debater.
Defendemos o território para garantir o bem-viver.
Precisamos nos unir, caminhando lado a lado, a academia e território, são na luta aliados, defendem o direito à vida e o alimento, que é sagrado.
Nossas escritas e saberes, precisam dialogar.
Ori significa cabeça na língua Yorubá.
O conhecimento emancipatório faz as nossas ori pensar.
Os povos e territórios, munidos de sentimento, buscam as alternativas para um projeto cem por cento. Pertencer ao território é o nosso pertencimento.
Pertencer a um território com turismo alimentar, com a geração de renda sem o alimento nos matar, de base comunitária, fortalece nosso lugar.
Rompamos com a lógica da ciência colonizadora, funcionária de carteira das forças opressoras.
A ecologia de saberes é a questão norteadora.
Usemos a internet como instrumento de ação.
Comunicar o território, difundir a informação. Lembramos da importância e do direito a comunicação.
Lutar de forma coletiva por uma educação contextualizada. Somente nos últimos anos foram 30 mil escolas no campo fechadas, trocando a educação do e no campo pela urbanizada. Urbanizar a educação é uma forma de desterritorializar, de perca de valores presentes no nosso lugar.
Nosso povo aprendeu a deixar sempre pra lá.
A violência urbana, para a gente é um grande mau. Pois é ela que determinada a nossa saúde mental, nos levando a depressão, que é do século o grande mau.
Não podemos abrir mão, jamais, de denunciar, o genocídio do povo negro, sem o Estado se culpar.
Em um período de três anos foram 16 pais de santos assassinados no Pará.
Os povos tradicionais vivem um grande preceito, pois precisam sobreviver a um Brasil de preconceitos e lutar para garantir o acesso aos seus direitos.
Território é vida, território é natureza.
Do território vem a nossa força, disso eu tenho toda certeza,
Dos índios, dos quilombolas e da classe camponesa.
Não podemos abrir mão da nossa autonomia. A presença nos territórios que nossos ancestrais vivia.
Pois se não existe território, não há agroecologia.
Precisamos perceber o valor que o território tem,
Enquanto a esperança não vencer, ninguém solta a mão de ninguém!
Precisamos perceber o valor que o território tem,
Enquanto a esperança não vencer, ninguém solta a mão de ninguém!