Por Fiocruz-BA
A Fiocruz Bahia recebeu o Seminário de Sistematização dos Questionários MSTB: Quilombo Paraíso e Quilombo Manuel Faustino, no dia 26 de maio. O projeto, iniciado em 2021, é fruto da articulação de grupos de pesquisa e movimentos sociais, firmada a partir da criação do Núcleo de Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde – NEEPES, com o objetivo de promover pesquisas que abordem, de forma simultânea, a justiça social, sanitária, ambiental/territorial e cognitiva.
Em Salvador, a iniciativa atua em parceria com o Movimento Sem Teto da Bahia – MSTB, contribuindo para a construção de um modelo de cidade vinculado a questões como proteção ambiental, agroecologia, agricultura urbana, saneamento e moradia digna, com sustentabilidade e proteção ambiental. Segundo o coordenador do NEEPES, Marcelo Firpo Porto, o trabalho busca reconhecer os saberes tradicionais e populares de grupos indígenas, quilombolas, camponeses e periferias urbanas, atuando nos seguintes eixos: agroecologia e alimentação saudável; moradia digna e proteção ambiental; saúde comunitária, autocuidado e prevenção à covid-19; comunicação entre as comunidades, movimento e sociedade.
A realização do projeto é amparada por diferentes estratégias de sistematização de experiências, tomando os movimentos sociais como sujeitos da pesquisa e articulando as suas vivências com os quatro eixos do projeto. Em sua primeira fase foram realizadas oficinas e discussões, buscando compreender como as experiências de agroecologia são realizadas no contexto dos acampamentos. A partir daí, as questões debatidas serviram para o refinamento dos questionários aplicados nos territórios, ajudando a compreender as demandas do movimento e suas necessidades em comunicação.
Os dados extraídos dos questionários são sistematizados, transformados em gráficos e aprofundados, tornando possível a reflexão sobre pontos de interesse da comunidade. Segundo o pesquisador Juliano Luís Palm, o projeto atua a partir do conceito de territórios sustentáveis e saudáveis e do conceito de promoção emancipatória da saúde, buscando entender, a partir dessa sistematização, como os movimentos contribuem para a sociedade e tornam suas experiências palpáveis.
De acordo com a coordenadora estadual do Movimento Sem Teto da Bahia, Rita Ferreira, a parceria vem se articulando para a promoção de atividades de sustentabilidade para as famílias dentro do território onde estão acampadas, com o objetivo de promover um espaço onde seja possível plantar e desenvolver a economia solidária, levando em consideração que grande parte dessas pessoas são mães solo. Além disso, pretende-se promover a produção de fitoterápicos a partir das plantas medicinais a partir dos saberes populares, em parceria com os conhecimentos científicos. O Movimento dos Sem Teto da Bahia está desenvolvendo um projeto de agrofloresta e Farmácia Viva em uma área de 35 hectares na APA Bacia do Cobre junto ao novo conjunto ambiental conquistado, beneficiando não só as famílias membros do MSTB, como também os moradores da região da Bacia do Rio do Cobre. “Nós queremos algo aberto para que as famílias e as crianças tenham contato com a terra, entendam o que são as ervas. Nós vamos resgatar a ancestralidade, a gente precisa trabalhar em cima dos saberes populares”, afirmou a coordenadora.
A realização do seminário marca a colaboração da Fiocruz Bahia com a iniciativa, firmando o diálogo entre a instituição, os movimentos sociais e as comunidades tradicionais, contribuindo para a popularização da ciência e a produção de diferentes formas de conhecimento.